E aí? Dá para viver de tradução?

Perdi a conta de quantas vezes já vi esta pergunta: “dá pra viver de tradução?” Dar, dá. Temos colegas que se sustentam exclusivamente com traduções há décadas. Mas posso dizer, com toda certeza, chegar lá nem sempre é fácil nem rápido.

Não vou dizer que não se deve trabalhar por pouco. Todo mundo já foi iniciante e todo mundo já teve meses difíceis, quando aceitava o que aparecer. Eu mesma comecei trabalhando para as “agências de R$ 0,04”, há uns dez anos, então seria muita hipocrisia de minha parte condenar quem faz isso. Mas, convenhamos, o que se ganha com elas não é suficiente para sustentar ninguém.

Pense bem: quantas palavras por dia o tradutor precisa traduzir para conseguir pagar as contas, recebendo R$ 0,04 por palavra? Certamente muitas mais do que eu consigo. Não sou boa digitadora, assumo. Nunca fiz curso de datilografia, aprendi “catando milho” para fazer os trabalhos de escola. Com o tempo, passei a catar milho cada vez mas rápido. E sou assim até hoje.

E quem digita rápido, será que dá conta de traduzir aquele zilhão de palavras por dia? E o tempo para pesquisar? E aprender ferramentas novas? E estudar? E viver? Porque convenhamos, viver para trabalhar não é lá muito saudável.

Com o tempo (e algumas cabeçadas por aí), aprendi algumas coisas.

Você consegue ganhar mais se especializando em um assunto. Pode ser um assunto pelo qual se interesse, um que você já conheça ou um que esteja “em alta”. Aprenda sobre ele, leia tudo o que puder nos seus idiomas de trabalho. É uma maneira de aprender a terminologia sem depender dos famosos (e nem sempre confiáveis) “glossários da internet”.

Aumente sua produtividade. Uma maneira é investir em uma ferramenta CAT. A produtividade e a qualidade do trabalho certamente aumentarão com o tempo. Nem sempre a gente percebe imediatamente a mudança, mas pode acreditar que ela vem. Existem outras ferramentas, programas e sites que também fazem perder menos tempo e ajudam a aumentar sua produtividade. É uma preocupação constante minha, então costumo escrever sobre isso.

SEMPRE procure clientes novos. E melhores. Mande CVs para possíveis clientes toda semana, sempre que tiver um tempo livre. É público e sabido que muitas agências terceirizam (e quarteirizam, quinqueirizam – nem sei se as palavras existem, mas acontece!) projetos de outras. E a cada terceirização, o valor pago ao tradutor é menor. Então, para receber mais é preciso passar pelos intermediários e tentar entrar nas agências lá do topo da pirâmide. Fácil? Claro que não! Mas não é impossível “sair do subsolo”. Aumentando sua carteira de clientes, fica mais fácil dispensar aquele cliente que paga pouco ou demora a pagar. Com o tempo, o nível geral da sua carteira (a de clientes e a do bolso) começa a subir.

Apareça na internet. Eu moro em São Paulo, a maior cidade do país, e praticamente não tenho clientes aqui. Minha “sede comercial” é a internet. Participe das redes sociais, comunidades, fóruns e listas, mas cuidado para não se queimar.

Participe de congressos, conferências e cursos. Nem sempre podemos nos deslocar e nem sempre podemos bancar evento mais viagem, mas muitas vezes esses eventos são online e gratuitos. Não desperdice oportunidades de conhecer colegas e aprender. E conhecer pessoalmente é muito melhor que conhecer pelo Twitter ou Facebook, acredite!

Sempre que possível, use o bom e velho não. Um não profissional e educado para ofertas que considerar inaceitáveis. Pode não parecer, mas muitos clientes estão dispostos a negociar prazos e preços.

Para finalizar, porque já estou escrevendo muito mais que o normal, deixo o link de um artigo que li hoje: Let’s not discuss rates any more. Ele resume bem minha filosofia: em vez de reclamar, use o tempo para melhorar e progredir. É mais útil.

Arquivos do Trados com .ini. Como traduzir?

Recebi um email da Verônica com uma pergunta relativamente frequente, então resolvi responder por aqui.

 

Recebi um teste e estou com dificuldades para abrir o arquivo, na comunidade do Orkut “Tradutores e Intérpretes” vi  que você já se pronunciou a respeito do assunto que esta me deixando maluca, por isso resolvi te escrever. Sempre leio os posts da comunidade, mas não sou membro, por isso não pude perguntar por lá.
É o seguinte: o teste é para ser feito no Trados(não tenho e nem sei como usá-lo), e os arquivo deve ser aberto com .ini file. Aí começou meu drama, não sei como abrir esse arquivo, não sei se ele foi feito no Trados, só vi as extensões .dtd, .tmx..
Você poderia me dar uma ajuda, me explicando como abro os arquivos?
Vou tentar fazer no Wordfast, se conseguir abrir….

 

Bom, vamos por partes. A Verônica não menciona o tipo de arquivo que recebeu para traduzir mas, se recebeu um .ini junto, vou supor que seja um .ttx. Esse formato é do Trados, mais especificamente do TagEditor, e o .ini serve, basicamente, para explicar ao programa como ligar com as tags e a segmentação. O Trados ainda é usado como “padrão do mercado”, mas várias outras ferramentas podem abrir os formatos de arquivo dele e, na maioria dos casos, funcionam melhor (não gosto nada do Trados, isso não é segredo 🙂 ). As agências pedem Trados, você faz na ferramenta que preferir e todos ficam contentes. Desde que você entregue o arquivo como o cliente pediu.

Ela diz que não tem o Trados, e que vai tentar usar o Wordfast. Não tenho certeza, mas me parece que o Wordfast Pro abre arquivos .ttx. Não sei se ele usa o .ini. Se não usar, a possibilidade de dar problema quando o cliente tentar abrir o arquivo no TagEditor (e ele vai abrir, com certeza, porque precisa re-exportar para o formato original) é grande. O Wordfast Classic não abre arquivos .ttx, pela simples razão de funcionar dentro do Word, e o Word não abre esse formato de arquivo.

Outra alternativa é o memoQ. Traduzo arquivos .ttx nele o tempo todo, já até expliquei como fazer aqui.

Agora, uma observação importante: para poder atender a um número maior de clientes (e, consequentemente, poder ter a chance de conseguir clientes melhores e que pagam mais), é indispensável para a maioria de nós não ficar preso aos formatos que podem ser abertos no Word. A cada dia, diminui mais o número de projetos que recebo em .doc ou .docx e aumenta o número de formatos diferentes. Os .ttx são só um dos formatos. Chegam também muitos .xls, .ppt e .html, por exemplo.

Se você quer prosperar, precisa investir. Em você, no conhecimento, nas ferramentas. Não tem como fugir.

7ª Conferência de Língua e Tecnologia – Nos vemos lá?

Dias 20 a 22 do mês que vem vou a Córdoba para a 7ª Conferência de Língua e Tecnologia organizada pela IMTT. Em português teremos sessões com Danilo Nogueira, João Roque Dias, Kelli Semolini, Marcelo Neves e Renato Beninatto (em ordem alfabética), além das sessões em espanhol e em inglês. Confira o programa, está bastante interessante.

E não tenho palavras para expressar minha satisfação por ter sido convidada como palestrante. E em dose dupla!

No sábado, dia 20, vou apresentar um seminário sobre liberdade de escolha do tradutor. Sou abertamente contra a política de certas agências de dizer qual ferramenta devemos usar para cada projeto. Nada contra o cliente pedir o arquivo em determinado formato, afinal tem o seu fluxo de trabalho, mas o tradutor é quem deve decidir qual ferramenta usar na tradução.

Mas, para poder tomar a melhor decisão, o tradutor precisa conhecer ao máximo cada ferramenta disponível, quais seus pontos fortes e fracos, qual a mais adequada a cada projeto.

Hoje em dia trabalho com o memoQ na maioria dos projetos. Assim, no workshop vou compartilhar algumas técnicas para converter arquivos, memórias e glossários de/para o memoQ e algumas outras ferramentas CAT.

Domingo, dia 21, minha palestra será sobre ferramentas de produtividade: OCR, backup, sincronização e compactação de arquivos, extensões para o navegador, ferramentas de pesquisa e terminologia – detalhes que podem aumentar muito a nossa produtividade no dia a dia tradutório.

 

E então, nos vemos lá? O prazo para inscrição com desconto termina hoje, 11 de julho.

 

Qual a melhor ferramenta?

Já ouvi a pergunta várias vezes: “Qual a melhor CAT?”

Apesar de usar exclusivamente o memoQ há mais de um ano, acredito que a melhor ferramenta (para tudo, não só para traduzir) é aquela que melhor se adapta a você e à ocasião. Você não usa (ou não deveria usar) uma chave de fenda para bater um prego. Da mesma forma, cada tipo de arquivo requer uma ferramenta específica.

Antes do memoQ eu usei o Wordfast durante muito tempo, e ele atendia perfeitamente minhas necessidades. Só migrei para o memoQ porque comecei a receber muitos projetos com formatos diferentes de .doc, que é o formato ao qual o Wordfast melhor se adapta. Ele também funciona razoavelmente bem em planilhas .xls e em apresentações .ppt, mas não é raro se enrolar e dar problema.

O memoQ, por outro lado, lida bem com muitos tipos diferentes de arquivo. Então, para mim, era essencial trocar de ferramenta se quisesse continuar traduzindo esses tipos diferentes de arquivo. Não me arrependo, porque atualmente recebo pouquíssimos arquivos do Word. O investimento valeu a pena e se pagou rapidamente.

Se você trabalha só com .doc, o Wordfast é uma opção mais lógica e barata. E vai resolver o seu problema muito bem.

Outra questão a considerar é a curva de aprendizagem. A melhor ferramenta para você é aquela com a qual se sente mais à vontade, da qual conhece os atalhos, comandos e recursos, que faz sua produtividade aumentar. Embora as ferramentas de CAT não sejam bichos de sete cabeças, conheço vários colegas que se atrapalham um tanto com os programas e, principalmente, com os atalhos. Minha dica, nos primeiros dias, é: imprima uma lista dos principais atalhos (a ajuda do programa costuma ter) e deixe do lado do teclado. Ajuda muito no início.

Resumo: não existe UMA ferramenta melhor, existe a melhor ferramenta para você, naquele projeto específico. O ideal é conhecer mais de uma ferramenta, além de alguns truques para converter arquivos entre elas. Desta forma, você consegue abranger um número maior de possibilidades no dia a dia.

Jornadas de Línguas Aplicadas da Universidade do Minho

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