Intérprete x voluntário: o eterno mimimi

Não é de hoje que vemos tradutores profissionais reclamando sobre o uso de voluntários ou amadores em eventos, seja esportivos, religiosos ou comerciais.

Nas traduções escritas isso também acontece, mas não é disso que vou falar desta vez. Hoje, o assunto são os intérpretes. A minha visão de leiga em interpretação, a partir do que vejo, leio e converso com amigos e colegas intérpretes.

Vejamos, primeiro, reuniões, congressos e outros eventos comerciais. Nesses casos a presença de um intérprete profissional é imprescindível, principalmente durante sessões de interpretação simultânea. Esta modalidade de interpretação exige treinamento específico, além de conhecimento profundo do idioma e da terminologia específica do evento, coisas que só um intérprete profissional treinado, salvo raras exceções, pode oferecer. Usar o sobrinho do chefe pode acarretar, no mínimo, prejuízos financeiros.

Mas em eventos esportivos e religiosos de grande porte, como os Jogos Panamericanos de 2007, a Jornada Mundial da Juventude de 2013, a Copa do Mundo deste ano ou os Jogos Olímpicos de 2016, é perfeitamente normal e aceitável a presença de intérpretes voluntários, como sempre foi usado em todas as épocas e em todos os países, por um motivo muito simples: não existe orçamento suficiente para pagar todos os intérpretes em todas as situações!

A presença dos profissionais está confirmada em inúmeros cenários: coletivas de imprensa, acompanhamento das delegações de atletas e políticos, eventos paralelos, contratados pela FIFA, pelos patrocinadores, equipes de TV e outras mídias, e muitos outros. São muitos profissionais (conheço alguns deles, mas prefiro não dar nomes) que estão sendo muito bem pagos para trabalhar durante esse período.

Certamente muitos não foram chamados, seja por falta de experiência, por falta de competência, por falta de contatos ou simplesmente por falta de demanda. E certamente muitos não vão trabalhar durante junho e julho porque o calendário de eventos em geral foi suspenso por causa da Copa do Mundo; as principais cidades que recebem esses eventos estarão com hoteis lotados com turistas e o custo de tudo aumentará muito, inviabilizando eventos paralelos não relacionados à Copa.

E obviamente não seria viável contratar milhares e milhares de intérpretes para atender à demanda de estrangeiros no país, ao custo de R$ 1.400,00 a diária para acompanhamento (segundo a tabela de referência do Sintra). É comum, quase tradição, se usar voluntários para isso. Os bons intérpretes que conheço sabem de tudo isso e, contratados ou não, já vinham fazendo um “pé de meia” para compensar os dias parados.

A profissão não é aprendida em poucos dias nem dá retorno rápido e fácil como levam a crer muitas reportagens levianas (e provavelmente patrocinadas) sobre o assunto.

Por outro lado, existem artigos excelentes na edição especial da Revista Língua Portuguesa sobre tradução, lançada em 2012 (nossa, já passou tanto tempo?) e na revista Veja desta semana, que foi compartilhado pela Abrates no Facebook. Vale a leitura, porque traz dicas e comentários de colegas altamente qualificados. Vai ficar aí parado? Arregace as mangas, qualifique-se e abaixo o mimimi!

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2 respostas para “Intérprete x voluntário: o eterno mimimi”

  1. Por pura coincidência, este fim de semana conversei com uma colega que há muitos anos interpreta em eventos importantes e acompanha celebridades no Brasil. É muito reconhecida e tem contatos valiosos. Perguntei se ela estava muito ocupada interpretando para a Copa, pois achei que seria óbvio, e ela me respondeu que preferiu não se cadastrar. É cidade grande, vai estar muito cheia, com trânsito ruim etc. e ela disse que optou por “pegar leve”, fazer traduções em casa e não se envolver. Isso me revelou um aspecto no qual eu ainda não tinha pensado, mas que também me pareceu uma decisão sensata.

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