Quem tem medo do Google Translate?

Não é de hoje que vejo colegas esbravejando contra a tradução automática, principalmente contra o tradutor do Google, hoje em dia a mais famosa dessas ferramentas. Pessoalmente não uso o GT porque o tipo de material que traduzo requer sigilo e meu clientes exigem isso em contrato, mas tenho experiências cada vez melhores com o ProMT (que é offline, só na minha máquina, com minhas TMs, meus glossários e as regras que eu especifico para cada caso).

Acabei de ler um artigo que fala do uso do GT na comunicação entre médicos e pacientes, e as conclusões corroboram a minha experiência:

“Google Translate has only 57.7% accuracy when used for medical phrase translations and should not be trusted for important medical communications. However, it still remains the most easily available and free initial mode of communication between a doctor and patient when language is a barrier. Although caution is needed when life saving or legal communications are necessary, it can be a useful adjunct to human translation services when these are not available.”

“Swahili scored lowest with only 10% correct, while Portuguese scored highest at 90%.”

Estão falando de tradução com GT, ferramenta grátis e sem pós-edição.O artigo completo está aqui: http://www.bmj.com/content/349/bmj.g7392

E como isso pode ajudar a nós, tradutores? Querem um exemplo prático? Traduzi recentemente o manual de operação de um equipamento para laboratório de análises clínicas usando o ProMT. Segundo o memoQ, mexi só em 20% do texto para mandar pro cliente com a terminologia e o estilo que ele queria. Ênfase no “mexi no texto“. MT tem que ser pós-editada, obviamente, para não ser um tiro no pé do tradutor. O texto que vai pro cliente tem que ser tão bom quanto o que você traduziu “sozinho”.

MT não serve pra todos os tipos de texto nem pra todas as ocasiões nem pra todos os pares de idiomas, mas pode ser um grande aliado dos tradutores que não tiverem medo de aprender uma tecnologia nova. Pode nos poupar digitação e muito tempo – ou seja, mais saúde, mais produtividade e mais tempo livre, sem necessariamente perder qualidade. Tudo depende de quem (e como) usa a ferramenta.

5 respostas para “Quem tem medo do Google Translate?”

  1. A Xerox, a IBM já usavam MT décadas antes de quando comecei a ouvir colegas e professores falando sobre o assunto . O material desenvolvido pela Xerox chegou ser marco na indústria.

    Creio que há dois problemas na raiz da falta de recepçào: o medo de perder mercado e a falta de conhecimento. Tudo que é novo e desconhecido assusta e gera reaçòes negativas. Poucos são os indivíduos que, ao se depararem com algo novo que “invade” sua zona de conforto, se deixam levar pela curiosidade e desejo de descoberta. A primeira reação é sempre de por o pé atrás.

    Em abril de 2015 completo 35 anos de carreira. Ainda tenho muito a aprender. Vi a MT crescer, deixar de ser pirralha, virar adolescente e agora, finalmente, receber um pouco mais de respeito. Não creio que vá a substituir o ser humano. Não creio que seja o desejo de seus criadores que ela chegue a este ponto. Creio que o objetivo principal é sanar uma defasagem entre demanda e oferta onde a qualidade e precisão não sejam fatores de alta prioridade.

    Agora vou explorar o ProMT que eu desconhecia.

  2. Já usei muito, muito mesmo o GT. E ainda uso. Principalmente quando comecei a traduzir, não conhecia nada nem ninguém e os prazos apertados cobravam um preço bem alto dos meus tendões. Várias vezes recorri a ele para ganhar velocidade, OBVIAMENTE editando os resultados. O mesmo procedimento que hoje uso no ProMT. Gostaria que nenhuma ferramenta fosse tabu. Podemos usar de tudo para traduzir, desde que não descuidemos da qualidade final.
    Obrigada por falar sobre isso. Os mais recentes na profissão, como eu, às vezes preferem não falar porque sempre há quem escarneça. É legal quando uma tradutora experiente fala sobre isso. 🙂

    1. Eu sou absolutamente a favor de usar a tecnologia para facilitar e melhorar a minha vida, tanto no trabalho quanto fora. Se eu posso usar uma ferramenta que vai me permitir tempo pra passear e curtir a vida, por que eu ficaria me matando pra fazer as coisas do jeito mais difícil? Isso, claro, considerando que não afete a qualidade do trabalho, caso contrário eu perco o cliente.

  3. Impressionantes esses 90% para a nossa língua, né? Será por semelhança ou porque nós brasileiros usamos muito mais o GT?

    Eu não sou tradutor então posso falar alguma besteira, mas tenho a impressão que o texto técnico devia ser traduzido por máquinas de tradução das empresas donas dos textos (afinal tem a confidencialidade) e acertados por tradutores humanos.

    O humano sempre será necessário porque textos, mesmo os técnicos, dependem muito das culturas locais e, principalmente em manuais mais críticos, temos que garantir o bom entendimento.

    A tradução de máquina ajuda a manter um padrão mesmo com várias pessoas traduzindo. Outro dia mesmo vi um seriado onde o nome de um lugar (Glades) virou Clareira no meio da temporada (eu sei que isso não é por falta de tradução de máquina, só me lembrei do caso).

    Já na tradução literária acho mais difícil porque a gente não quer padronização de estilo nisso… Bem, tem uns padrões para literatura pop, mas também tem as particularidades de estilo de cada autor e público alvo e acho que a tradução de máquina acabaria atrapalhando o processo criativo do tradutor.

    1. Você entende mais do mercado de tradução que muito tradutor por aí, Roney! 🙂

      A tradução automática tem muitas aplicações, mas claro que não serve pra tudo. Já tem tirado trabalho de muitos tradutores, mas não acho que acabe com a profissão. Deve acabar, sim, com alguns nichos (a indústria automobilística já usa MT há anos para manuais de instrução, por exemplo) e muitos tradutores não especializados. Temos que nos adaptar, como o ser humano teve que fazer desde sempre pra sobreviver e evoluir. 🙂

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