Currículo pra cá, currículo pra lá… E como a gente controla isso?

Mandar currículo (ou, como brinco em aula, abanar o cvzinho por aí 😀 ) faz, ou devia fazer, parte da nossa rotina, mesmo para quem tem mais de década de estrada tradutória. Quando conseguimos clientes que paguem mais, podemos dispensar, ou pelo menos dar menos prioridade, para os que pagam menos. O objetivo é ganhar mais trabalhando menos!

Muitos anos atrás eu comecei uma planilha de clientes em potencial. As fontes são várias: LinkedIn, diretórios de associações, da Translators101 (só para assinantes Premium), do Proz, do TranslatorsCafe. E que informações eu incluo para cada uma? Nome da agência, país dela, áreas de atuação (pesquiso previamente para ver se atuam nas minhas áreas de especialização e no meu par de idiomas), nome e email da pessoa responsável pela avaliação de currículos, se conseguir descobrir isso.

Mas acho que as informações mais importantes que eu anoto lá são as de credibilidade dessas agências. Qual a avaliação dessas empresas no Proz, na Payment Practices, no Tri-Trab? Tem alguém reclamando dela no LinkedIn? Já falei aqui sobre a importância de pesquisar a reputação das agências para não cair em roubada.

E por que eu anoto essas informações?

Qual a necessidade de anotar essas coisas, se a agência não tiver uma reputação que valha a pena? Se eu não pretendo trabalhar para ela? Então…
Hoje chegou um contato privado pelo Proz. Olhei lá na minha lista, estava anotadinha a má avaliação em quase todos os sites. A mensagem foi direto pro lixo, sem eu precisar perder tempo com ela de novo.

Como eu estou sempre tentando otimizar as coisas (é o meu jeitinho 🙂 ), recentemente migrei a planilha para o Notion. Gostei que dá para fazer várias listas diferentes a partir da mesma “lista-mãe”, facilitando a visualização. Na imagem abaixo dá para ver que tenho duas sublistas com os clientes viáveis. Meu critério para ser cliente viável é ter “sim” ou “talvez” na coluna “Vale a pena?”.

Aí, com base nesse critério e nas informações da coluna “Especialização”, fiz uma sublista para clientes de Life Sciences e uma para os de localização.

(Dividi em duas imagens para facilitar a visualização, mas fica tudo numa linha só.)

Anoto também quando mandei CV, e por onde (site/email). Se tiver retorno, anoto numa outra coluna que não aparece no print. E aí de tempos em tempos volto à lista e vejo se preciso retomar o contato com alguma delas.

Se precisar consultar rapidinho um nome, já que minha lista já tem centenas de agências, é só usar a lupinha que aparece à direita na segunda imagem. É, gente, centenas mesmo. E adiciono mais algumas toda semana.

Isso garante algum retorno? Garante serviço desses clientes? NÃO. E quem der alguma garantia, seja qual for, está mentindo. Mas temos que tentar, mesmo assim, não é mesmo? Porque clientes (e serviço) infelizmente não caem do céu.

Bora abanar o cvzinho por aí?

Sobre marketing online e tiro no pé… de novo

Semana passada fiz o workshop da Marta Stelmaszak sobre marketing para tradutores, promovido pela Abrates com o apoio do Proz.

– Mas puxa, Val – você pode dizer – depois de tanto tempo no mercado,  você precisava mesmo fazer um workshop desses?

Olha, precisava, sim. Porque sou autônoma, porque sempre estou à caça de clientes bons e, se um workshop me ajudar, por que não? E não me arrependi.

No primeiríssimo exercício da tarde, nos reunimos em grupos de 4 pessoas para discutir como não conseguir um cliente. Ou seja, como estragar tudo. Depois de dez minutos de discussão, o resultado foi este:

O que fazer para não conseguir um cliente (foto publicada com autorização)

Em seguida falamos sobre como fazer certo, claro, mas aqui vou me concentrar apenas nos erros, porque são coisas que podem acontecer dia sim, outro também no relacionamento com os clientes.

Os erros enumerados foram:

  • Perder prazo;
  • Não ter presença online (ou não saber se comportar profissionalmente);
  • Divulgar informações confidenciais;
  • Reclamar em redes sociais sobre preços, sobre clientes, sobre colegas;
  • Ser rude (com os clientes e os colegas);
  • Demorar muito para responder quando o cliente entra em contato;
  • Evitar networking;
  • Vangloriar-se (em resumo, apresentar-se como o rei da cocada preta);
  • Desrespeitar clientes e/ou colegas;
  • Não contar às pessoas próximas (amigos, parentes) o que você faz – alguém pode estar precisando de um tradutor agora mesmo;
  • Limitar-se a traduzir, sem procurar resolver os problemas do cliente;
  • Não saber negociar (prazos, preços).
  • Mentir (sobre áreas de especialização, conhecimento, habilidades, etc.) – este item foi incluído depois, por isso não apareceu na foto.

O que mais me espanta nessa lista é que ela reflete uma falta de atenção imensa com um dos nossos maiores patrimônios: a nossa reputação. A atitude de “falem bem, falem mal, mas falem de mim” que vemos semana sim, outra também por aí não é compatível com a nossa vida de autônomo. Nós dependemos da nossa boa reputação para conseguir clientes novos e manter os antigos. E como é que fazemos isso? Como construímos a nossa reputação? Participando de congressos, eventos presenciais, fazendo parte de associações (sim, os bons clientes consideram isso um sinal de profissionalismo), pensando muito bem no que postamos no Facebook e em outras redes sociais.

Falar mal de clientes, divulgar informações confidenciais sobre projetos, xingar colegas, isso tudo pega muito mal para nossa imagem, sem falar na possibilidade de um processo criminal (sim, existe lei pra isso, e ela se aplica a todo mundo).

– Mas ah, – alguém pode argumentar – meus clientes nunca vão ficar sabendo do que eu falo! Eu comentei num grupo fechado, não tem como eles descobrirem…

E se eu te contar que outro dia eu vi uma colega tradutora israelense batendo altos papos com a dona de uma agência dos Estados Unidos que é minha cliente? Donos de agências conversam. Gerentes de projeto conversam. Tradutores conversam. Eles até – pasmem! – se encontram ocasionalmente para um café ou almoço, ou se encontram nos muitos congressos de tradução que acontecem pelo mundo. Acha mesmo que, depois de saber das ~indiscrições~ que as pessoas soltam aos quatro ventos nas redes sociais, elas vão dar uma chance pra essas pessoas? Responda com toda sinceridade: você daria? Eu não.

Muito grave, também, é divulgar informações confidenciais de clientes. A maioria de nós assina NDAs (acordos de sigilo) que proíbem a divulgação dessas informações. Veja este trechinho de um NDA que assinei recentemente:

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Ele proíbe até comentar por aí que eu trabalhei em determinados projetos (o que é realmente uma pena, porque são projetos muito, muito legais). Mas, mesmo que não tenhamos um contrato assinado com um determinado cliente, a ética da profissão dita que devemos tratar toda e qualquer informação como confidencial.

– Mas o meu cliente não liga pra essas coisas, ele não se importa que eu divulgue informações sigilosas – alguém pode alegar.

Se o seu cliente não se preocupa com a ética da profissão, meu amigo, eu ficaria preocupada é com esse cliente. Vai saber se a próxima vítima da falta de ética dele não é você!

50302 Unplugged: o tradutor em outras palavras – ou não

Acabei de ver uma foto de um moleskine passando pela timeline do Facebook e me lembrei de um projeto sensacional que nasceu na saudosa 50302, a comunidade de tradutores e intérpretes do Orkut, da qual fui moderadora (com muito orgulho!) por alguns anos.

Os colegas, hoje amigos, tiveram a ideia de fazer um moleskine (nosso “molekinho”) passear pelo mundo, de mão em mão, para que tradutores de diferentes áreas e diferentes talentos mostrassem sua visão da tradução. O progresso e as histórias das andanças do molekinho ficou registrado no blog 50302 Unplugged.

Só agora, tantos anos depois, consigo pensar em uma “arte” pra colocar lá. Alguém sabe por onde anda o caderninho? Precisamos colocar o molekinho na estrada de novo!

Quer melhor jeito de desejar um feliz dia do tradutor do que mostrar como cada um vê a profissão? Feliz dia de São Jerônimo a todos os tradutores!

O que o cliente quer de você

Um dos meus clientes recentemente mandou estas dicas, e acho que elas podem ser úteis para mais gente (e venho falando coisa parecida há tempos aqui, no Facebook e no finado Orkut), então resolvi postar. O cliente autorizou a reprodução (a pedido dele, fiz ligeiras alterações para ocultar o nome da empresa e outros detalhes que poderiam identificá-la).

  • Seja sincero. Na dúvida, recuse.
    Se não tiver certeza se consegue cumprir um prazo ou assumir o projeto, seja sincero e diga “Não” ou peça mais tempo antes de aceitá-lo. Pedir mais prazo depois do início do projeto causará muitos problemas.
  • Se não enviarmos uma confirmação clara por escrito, um número de projeto e uma ordem de serviço, NÃO comece a trabalhar.
    As POs (ordens de serviço) incluem todos os detalhes do projeto, como cronograma, custo acordado, lista de arquivos a traduzir e instruções. O tradutor pode faturar apenas o valor incluído nesse formulário, então leia a PO e confirme todos os detalhes ali indicados antes de começar a trabalhar no projeto.
  • Não tenha medo de perguntar!
    Ficamos sempre felizes em ajudar como pudermos, e você deve sempre esclarecer qualquer dúvida que tiver. Se não soubermos responder, perguntaremos para o cliente.
  • As instruções devem ser sempre seguidas.
    Sempre analisamos em detalhes as exigências do cliente antes de começarmos qualquer projeto e preparamos uma lista de instruções para nossos tradutores. Essas instruções são incluídas no e-mail de confirmação, juntamente com a documentação para o projeto, para ajudá-lo durante o processo de tradução. É essencial segui-las. Caso contrário, podemos precisar pedir que refaça o trabalho.
  • A documentação de referência sempre deve ser usada.
    Sempre tentamos conseguir o máximo de documentação de referência, definições e informações de contexto com nossos clientes. É essencial que o tradutor leia e entenda esse material antes de terminar a tradução. Isso também diminui o tempo de finalização.
  • Verifique antes de entregar!
    Sempre verifique seu trabalho com muito cuidado antes de entregá-lo. Devolveremos qualquer trabalho que tenha problema. Isso inclui rodar um corretor ortográfico automático (e também manual) antes de entregar qualquer trabalho. Traduções com erros ortográficos são inaceitáveis.
  • Se a qualidade da tradução que você precisa revisar está ruim, avise-nos antes de começar.
    Sempre exemplifique os problemas. Nós os analisaremos e decidiremos o que fazer. Lembre-se que você não pode nos cobrar mais pelo trabalho extra a menos que aprovemos o custo adicional antes de você começar.
  • Melhore, se puder!
    Revisão, para nós, significa mais que corrigir erros puramente linguísticos. Inclui também todos os aspectos de uma tradução. Esperamos que você verifique exatidão, ortografia, gramática, estilo, uniformidade, formatação, terminologia, adequação ao público-alvo, etc. Verificar significa não apenas identificar os erros ou aspectos que podem ser melhorados, mas também corrigi-los diretamente na tradução para produzir um texto finalizado. Se houver algo que você consegue traduzir melhor, altere.
  • Marque suas alterações e dê feedback.
    É sempre bom sabermos o que nossos revisores alteraram nas traduções. Assim, quando revisar uma tradução no Word, use a função de controle de alterações (“Track changes“) e, quando trabalhar no Excel, destaque a célula alterada com uma cor de fundo diferente (não é necessário marcar cada palavra, a menos que peçamos).
    Se precisarmos de comentários detalhados com relação às alterações, pediremos e diremos onde inseri-las.
    Evite sempre usar o “strikethrough“, porque é trabalhoso finalizar o texto (assim como usar o recurso).
    Sempre estimulamos nossos revisores a enviar um feedback sobre as traduções. Não tenha medo de dar sua opinião!
  • Se uma alteração não melhorar a tradução, não mexa!
    Seja crítico ao finalizar uma tradução depois da revisão do cliente final. Sempre verifique se as alterações solicitadas estão corretas ou melhoram a tradução antes de aplicá-las. Se não forem, não implemente a alteração e explique o motivo.

Meus complementos:

  • Não tenha medo de perguntar, mas pense antes. Os clientes gostam quando tiramos dúvidas, isso demonstra que estamos prestando atenção ao projeto, mas dúvidas bobas ou descabidas demais podem demonstrar que você não conhece o assunto ou não sabe o que está fazendo, e isso pode ser um tiro no pé.
  • Na hora do feedback, tente ser o mais profissional e objetivo possível. Atenha-se aos fatos e fundamente sempre que possível com links ou transcrições de gramáticas, dicionários ou outras referências.
  • Melhore o texto, se puder, mas não troque seis por meia dúzia para mostrar serviço. Às vezes a tradução está mesmo muito boa. Nesse caso, elogie o tradutor. 😉

Intérprete x voluntário: o eterno mimimi

Não é de hoje que vemos tradutores profissionais reclamando sobre o uso de voluntários ou amadores em eventos, seja esportivos, religiosos ou comerciais.

Nas traduções escritas isso também acontece, mas não é disso que vou falar desta vez. Hoje, o assunto são os intérpretes. A minha visão de leiga em interpretação, a partir do que vejo, leio e converso com amigos e colegas intérpretes.

Vejamos, primeiro, reuniões, congressos e outros eventos comerciais. Nesses casos a presença de um intérprete profissional é imprescindível, principalmente durante sessões de interpretação simultânea. Esta modalidade de interpretação exige treinamento específico, além de conhecimento profundo do idioma e da terminologia específica do evento, coisas que só um intérprete profissional treinado, salvo raras exceções, pode oferecer. Usar o sobrinho do chefe pode acarretar, no mínimo, prejuízos financeiros.

Mas em eventos esportivos e religiosos de grande porte, como os Jogos Panamericanos de 2007, a Jornada Mundial da Juventude de 2013, a Copa do Mundo deste ano ou os Jogos Olímpicos de 2016, é perfeitamente normal e aceitável a presença de intérpretes voluntários, como sempre foi usado em todas as épocas e em todos os países, por um motivo muito simples: não existe orçamento suficiente para pagar todos os intérpretes em todas as situações!

A presença dos profissionais está confirmada em inúmeros cenários: coletivas de imprensa, acompanhamento das delegações de atletas e políticos, eventos paralelos, contratados pela FIFA, pelos patrocinadores, equipes de TV e outras mídias, e muitos outros. São muitos profissionais (conheço alguns deles, mas prefiro não dar nomes) que estão sendo muito bem pagos para trabalhar durante esse período.

Certamente muitos não foram chamados, seja por falta de experiência, por falta de competência, por falta de contatos ou simplesmente por falta de demanda. E certamente muitos não vão trabalhar durante junho e julho porque o calendário de eventos em geral foi suspenso por causa da Copa do Mundo; as principais cidades que recebem esses eventos estarão com hoteis lotados com turistas e o custo de tudo aumentará muito, inviabilizando eventos paralelos não relacionados à Copa.

E obviamente não seria viável contratar milhares e milhares de intérpretes para atender à demanda de estrangeiros no país, ao custo de R$ 1.400,00 a diária para acompanhamento (segundo a tabela de referência do Sintra). É comum, quase tradição, se usar voluntários para isso. Os bons intérpretes que conheço sabem de tudo isso e, contratados ou não, já vinham fazendo um “pé de meia” para compensar os dias parados.

A profissão não é aprendida em poucos dias nem dá retorno rápido e fácil como levam a crer muitas reportagens levianas (e provavelmente patrocinadas) sobre o assunto.

Por outro lado, existem artigos excelentes na edição especial da Revista Língua Portuguesa sobre tradução, lançada em 2012 (nossa, já passou tanto tempo?) e na revista Veja desta semana, que foi compartilhado pela Abrates no Facebook. Vale a leitura, porque traz dicas e comentários de colegas altamente qualificados. Vai ficar aí parado? Arregace as mangas, qualifique-se e abaixo o mimimi!

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