Nem todo atraso significa calote

Esses dias eu fui “premiada”. Dois clientes não me pagaram em dezembro. Como viajei no fim do ano, só fui perceber a falta de pagamento no início de janeiro.
Mandei email para os dois, pedindo educadamente que por favor verificassem se o pagamento das faturas X, Y e Z (sim, mais de uma de cada cliente) havia sido feito, porque eu não estava conseguindo localizar no extrato.
São clientes antigos, sempre pontuais.
Um deles pediu para re-enviar a fatura, pois não estavam encontrando. Encaminhei o email original, comprovando o envio da fatura. Pediram mil desculpas, fizeram o pagamento no dia seguinte.
O outro respondeu que haviam feito o pagamento no dia 6 de dezembro (a primeira fatura vencia dia 19, logo o pagamento estava adiantado), no valor total das faturas. Antes de eu responder que o dinheiro não tinha chegado, chega outro email dizendo que realmente o erro tinha sido deles e que tinham lançado no sistema, mas acabaram não fazendo a transferência. Transferiram o valor na mesma hora, incluindo até as faturas que ainda não tinham vencido.
Agora me digam: e se eu tivesse agido como já vi vários colegas fazendo? E se eu tivesse “rodado a baiana”, mandado email mal-educado e colocado a boca no mundo nas listas e outros fóruns, chamando o cliente de caloteiro e salafrário?
Teria perdido dois clientes excelentes, que me rendem um bom dinheiro.
Fica então a dica: todos os contatos com o cliente devem ser cordiais e profissionais. Sempre. Isso não quer dizer absolutamente baixar a cabeça nem deixar passar nada. Se você tem que cumprir sua obrigação de entregar um serviço bem feito e no prazo, o cliente tem a obrigação de pagar no prazo combinado. Se não pagar, cobre. Mas com educação.
Algo como “Não consigo localizar o pagamento referente à fatura X, no valor de Y, vencida no dia Z. Por favor informe data e valor do pagamento, para que eu localize no extrato”.
Se o cliente não pagou mesmo e perceber que está enrolando, “Favor providenciar o pagamento até dia X, evitando assim o envio do título para protesto”.
Mas sempre com educação, porque quem perde a educação perde também um pouco da razão. E, se chamar o cliente de safado, caloteiro e coisas do mesmo calão em público, ainda pode acabar processado.

Spam tradutório

Costumo receber CVs de tradutores por e-mail, apesar de nunca ter agenciado nenhum projeto nem dar a entender nada parecido aqui no blog, nem em nenhum outro lugar.

O que muitas vezes acontece é precisar indicar alguém para o cliente porque não entendo do assunto, não trabalho com um determinado par de idiomas ou não tenho condições de aceitar o projeto, por algum motivo, mesmo sendo da minha área e idioma. Mas, nesse caso, obviamente vou indicar alguém que eu conheça, que saiba que é um tradutor pelo menos razoável. Não vou indicar alguém cujo trabalho eu não conheço, que eu não sei se é confiável, pontual. Eu é que não vou me queimar com o cliente! O máximo que já fiz foi pedir indicação a colegas, a pedido do cliente, e repassar o contato com a ressalva de que não conheço, mas foi bem indicado, e que o cliente deveria fazer um teste com o tradutor antes.

Eis que hoje chega um e-mail de uma portuguesa, se oferecendo como tradutora no par português (europeu)-francês e se dispondo a fazer um teste. Fico me perguntando onde ela conseguiu meu endereço. Em todos os portais, e mesmo na minha assinatura de e-mail, sempre coloco o endereço aqui do site (e, antes, do blog no Blogger). Tivesse ao menos se preocupado em clicar no link, veria que não trabalhamos com os mesmos idiomas. E certamente perceberia que não sou agência, sou só tradutora.

Sim, eu também garimpo clientes na internet. Acho que todo tradutor faz (ou deveria fazer) isso. Mas olho os sites um a um, vejo se o cliente em potencial trabalha com os meus idiomas, se atua nas minhas áreas de especialização, que tipo de clientes atende, se anuncia seus preços no site. Porque se ele anunciar um preço próximo ao que eu cobro, nem vale a pena mandar CV. Com certeza não vai querer pagar o meu preço.

Então, fica a dica: garimpo de clientes sim, spam tradutório, não. Até porque passa a impressão (ou, dependendo do caso, a certeza) de que você não pesquisou antes de mandar o e-mail. Ou que abriu o site, leu mas não entendeu o que leu. E, para um tradutor, não sei qual primeira impressão, dentre as duas, é a pior.

Cliente e terminologia

Semana passada me vi enrolada com um projeto. Era um catálogo de consumíveis e peças de reposição de um equipamento de laboratório. Num determinado momento, começaram as listas de peças. Só lista, sem nenhum tipo de imagem pra ajudar.
O site do cliente, mesmo na “seção brasileira”, não trazia um único catálogo ou manual em português que eu pudesse usar como base.
Um exemplo de dúvida que me ocorria: o cliente usa selo ou vedação para seal? Porque não adianta nada eu caprichar na tradução, o manual chegar até os usuários e eles soltarem um “tradutor burro, não sabe que o nome disto é X?”. Não, eu não sei.
Resolvi ligar para o suporte técnico da empresa, felizmente aqui mesmo em São Paulo, para ver se eu conseguia alguma informação. Se tivesse sorte, talvez conseguisse algum catálogo antigo. Depois de alguns números errados e de convencer os técnicos de que eu não era espiã do concorrente, consegui conversar com o técnico responsável pela manutenção daquele tipo de equipamento do meu catálogo. Ouvi coisas como:
“Não precisa traduzir o nome das peças. O manual e o help do sistema estão em inglês, então o usuário já conhece os termos em inglês mesmo.”
“Gold seal? É selo de ouro, claro! Seal é selo em inglês!”
“Wash seal? Wash é lavagem…”

Conclusões:
1 – Pode-se dizer que perdi meu tempo, mas pelo menos me diverti um pouco (se bem que era um típico caso de rir para não chorar);
2 – Ainda bem que o cliente não pensa como aquele engenheiro.
3 – Deve ser engraçado (se não irritante) ver o técnico conversando com o cliente. Mistureba total de inglês e português, pelo jeito.

Como gerar um arquivo .doc com controle de alterações

É comum os clientes pedirem revisão dos textos com a opção de controle de alterações (track changes) ativada, para que ele, cliente, e o próprio tradutor possam visualizar mais facilmente o que foi alterado.

Mas e quando o revisor não usa esse recurso? Como saber o que foi alterado sem cotejar o texto todo?

O próprio Word tem um recurso para isso, a função “Comparar”. No Word 2007, fica na aba “Revisão”.

Comparar, no Word 2007

Depois especifique os arquivos (original e revisado), os parâmetros desejados, se quer as correções em um novo arquivo ou no existente:

Word 2007, detalhes de "Comparar"

O resultado será um arquivo com as correções destacadas, como se tivesse sido feito com o controle de alterações ativado.

Nuvem, informação e networking

A Carol Alfaro escreveu um post muito interessante sobre networking e presença online, em resposta à convocação do English Experts aos blogs educacionais. A ideia do Alessandro foi excelente e eu assino embaixo do post da Carol. Ela consegue, quando quer, escrever verdadeiros “tratados” sobre um determinado assunto, puxando o fio da meada desde o comecinho, depois desenrolar tudo e finalizar com um lacinho. Definitivamente eu não tenho essa facilidade, então vou só complementar com alguns pontos.

A quantidade de informação que podemos obter via blogs é realmente absurda. Acessar um a um diariamente, procurando atualizações, é tarefa praticamente impossível. Uma maneira mais fácil de acompanhar vários blogs ao mesmo tempo é usar um reader, que concentra todos os blogs em um só lugar. Eu uso o Google Reader, pela facilidade de ser online, não precisar instalar nada e eu poder ler em qualquer computador ou pelo celular. A maioria dos navegadores e clientes de email também tem recurso semelhante. Procure por “rss feed”.

A presença online é indispensável hoje em dia. Mas, para ser um retorno positivo, é preciso prestar muita atenção à sua postura online. Escrevi brevemente sobre isso há alguns meses.

Resumindo: o mundo está mudando muito rapidamente, somos bombardeados com informações vindas de todos os lados, sobre todo tipo de assunto. Isso é excepcional, mas precisamos aprender a filtrar essas informações para não sermos soterrados por elas.

Outro ponto importantíssimo: o mundo virtual nada mais é que uma extensão do chamado mundo real, uma outra forma de convivência entre pessoas reais, de carne e osso. A internet não é um universo paralelo como os das histórias de ficção científica, com “leis universais” diferentes ou opostas às do nosso universo. Por trás de cada avatar existe uma pessoa de carne e osso. As regras de comportamento, educação e boa convivência que aprendemos na infância, que nossos pais e avós insistiam que seguíssemos à risca, também valem na internet. Principalmente se você quiser fazer dela seu local de trabalho.

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